Série Histórias vividas do cotidiano de Cuba - Por Wesley Fragas
23/09/2024 10H22
Contei algumas passagens minhas pela Ilha de Cuba em outro artigo que você pode consultar aqui no nosso site Web Rádio Novidade.
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Hoje vou falar de esporte. Numa das escapadas com cubanos normais pelas ruas de Matanzas em 2015, perto da capital (cerca de 120 km de Havana), decidi que ia a um jogo de beisebol.
Meu interesse veio em uma conversa num bar com cubanos totalmente estranhos em um pequeno bairro daquela cidade corroída pelo tempo e pela história, bebendo uma garrafa de Havana Club, logicamente compartilhando o ron com “los hermanos” cubanos.
Minha curiosidade era normal de brasileiro acostumado com futebol e chega em um país onde o coração pulsa beisebol. Eu continuo não entendendo nada de beisebol, mas pense você amigo leitor que gosta de esportes, você também não se interessaria em ver algo que raramente vemos no nosso país?
Pois é, a magia dos estádios não tem fronteiras, logo comprei um “jornaleco” de sindicato que tem em toda esquina de Cuba para me inteirar sobre o campeonato cubano de beisebol. Jornal em Cuba tem somente duas coisas: política (propaganda do partido) e beisebol. Pelo menos entrar no estádio e saber como as equipes estavam no campeonato. O jogo era entre Los Cocodrilos (Crocodilos) da cidade Matanzas e Villa Clara Leopardos da cidade de Santa Clara. De resto, eu não sabia mais nada.
A equipe de Beisebol de Santa Clara carinhosamente chamada de “azucareros” fica bem no meio da ilha de Cuba, cidade onde estive dois anos depois, inclusive visitei o local onde, presumidamente está enterrado “Che Guevara”, assunto para outro conto.
Muitos cubanos tentam a sorte no capitalismo por meio do beisebol. Há muitos cubanos exilados em outros países onde este esporte é muito popular, especialmente nos EUA e no Japão.
No dia do jogo, coloquei uma bermuda comprada numa loja do centro, uma camiseta e fui para o estádio Victoria de Girón caminhando como qualquer cubano. O clima é exatamente igual ao que se vê nos arrecadadores de estádios brasileiros em dia de jogo de futebol. Comprei uma faixa de Los Cocodrilos (dei uma de turista nessa), sintonizei na rádio local e sentei na arquibancada cheia de cubanos. Não lembro de ter visto outro extrangeiro neste dia.
A bermuda merece uma explicação: por orientação da minha ex-esposa, sempre que íamos a Cuba usávamos nossa cota de bagagem com roupas compradas no Brasil para levar para familiares cubanos. Então, eu não tinha nem duas mudas de roupa. Pensei em comprar algo parecido com o vestuário local.
Voltando ao jogo, perguntei ao meu ex-cunhado quanto tempo duraria a partida. Outra vergonha que passei! Uma partida de beisebol pode durar 30 minutos ou até se estender por 4 ou 5 horas. Não vou entrar nos detalhes da regra porque preciso ser humilde e falar que ainda não entendi como funcionam as tais “9 entradas”.
Só aprendi uma coisa, quando o jogador que está com taco de madeira não mão, acerta uma “taquarada” em cheio na bola e ela vai parar fora do campo, o nome dessa maravilha é “home run”. Aprendi o nome porque um jogador da equipe do Santa Clara acertou uma dessas meu amigo leitor. Eu vi ao vivo e confesso que fiquei emocionado, mesmo sendo contra minha suposta equipe, Los Cocodrilos. A turma olhava aquela bola no ar, que não caia de jeito nenhum, uma sensação incrível, até para os torcedores da equipe de Matanzas.
Então, os jogadores correm todas as bases e isso dá muita vantagem em pontos para quem acertar a tacada mágica. Eu só via os cubanos falando “ - No joda, me voy” (é tipo, não fode, vou pra casa). Sim, metade do estádio foi pra casa e a outra ficou “chismeando” (fofocando). Todo mundo já tinha dado o jogo como perdido. E perderam! Eu sai antes de acabar como quase todos, já tinha visto um “home run”, ao vivo, jogada clássica deste esporte, algo como um jogador de futebol bater uma falta no ângulo aos 45 do segundo tempo e ganhar a partida com este golaço para sua equipe.
Depois do jogo, me inteirei que o tal jogador que fez a proeza estava de malas prontas para ir para os EUA. Infelizmente eu não lembro o nome do jogador, mas sei que na semana seguinte, todo mundo em Cuba, inclusive na televisão, só falavam desta jogada.
Peguei um Guagua com familiares, (ônibus circular para os cubanos) e voltei para Guanábana. A noite bebi ron, fiz muita fofoca sobre o jogo com os moleques locais e acabamos jogando futebol num terreno baldio em frente a igreja.
Espero que tenham gostado desta pequena “historieta”.
Wesley Fragas
Jornalista Web Rádio Novidade
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Aracy Santos Sens - 23/09/2024 11h45
Gostei muito da história.
Gostei muito da história.