Um figuraço estranho e pitoresco, era o Lombo Sujo. Eu não saberia dizer se tinha este apelido por causa de alguma eventual "alergia à água e sabão." Independentemente dessa possibilidade, tinha no entanto uma outra característica que era sua marca registrada. Quem sabe, tendo consciência de como era difícil ganhar algum dinheirinho, era um mão fechada daqueles que se acidentalmente caísse num rio, certamente morreria afogado, por não abrir a mão.

Chegava ao cúmulo de fazer "a pé", o trecho Ituporanga - Rio do Sul, onde ia às vezes negociar sua produção hortigranjeira, para não ter que pagar a passagem de ônibus. A insignificância de vinte e seis quilômetros.

E talvez assim como poupava, evitando gastar, é que certamente também arquitetou um jeitinho de ganhar dinheiro fácil. Uma determinada ocasião apareceu na loja do Carlos Coelho, na "seção de secos e molhados" comandada por um tio meu, trazendo nas mãos uma sacola de pano, dentro da qual se alojavam - tempo frio - lindas bolas de manteiga amarelinha da silva. Meu tio pesou a manteiga e preparava-se para pagar ao fornecedor, quando surgiu um freguês que "caiu de amores" por uma manteiga tão linda.

Meu tio pediu licença ao Lombo Sujo e com habilidade de quem está acostumado a fazer isso todos os dias, uma baita faca na mão, tentou cortar uma das bolas de manteiga recém-entregue.

Surpresa! A faca avançou um pouco e empacou.

Por maior esforço que o tio fizesse, a faca não progredia, como se a manteiga tivesse o seu interior petrificado. Forçou a manteiga cortada para os lados e nova surpresa. O miolo da manteiga estava realmente petrificado, melhor dizendo, era um baita seixo rolado, estrategicamente ali colocado para dar maior peso ao produto.

Como acabou a história? Não me lembro. Mas certamente não foi o final feliz que imaginara o Lombo Sujo.

Transcrito da página 56 da obra de Nilson Boeing - Livro “Homenagam a Ituporanga” - Editora Nova Letra, 2012.

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