Nota de Introdução:

Os índios Botocudos viviam nas terras que hoje é Ituporanga. Provavelmente não estavam sós e haviam outras etnias na região. Da factível temos relatos de desbravadores e colonos acerca destes primeiros povos da terra. Com os Botocudos houveram confrontos, já com outras etnias houve várias tentativas de submissão pelos desbravadores, colonos e missionários da Igreja. Estes contatos, seja através de confrontos ou até mesmo por necessidade com as tribos indígenas na região de Rio Abaixo, se estenderam até o início do século XX. Na gruta Nossa Senhora de Lourdes há vestígios de um local de passagem (abrigo) dos antigos indígenas que habitavam a região. O capitão Pinto em 1857 (talvez a primeira pessoa que não era de povos originais, foi o primeiro a passar pelas terras do atual território de Ituporanga, fato registrado com fontes primárias) teve dificuldades ao passar por este Burgo (Assim eram chamados os três grandes lotes de terras virgens pela Império do Brasil o espaço inexplorado entre a Catuira e Rio do Sul na barra do Rio Itajaí do Oeste), primeiro porque teve que tirar suas embarcações do rio na altura do Salto Grande, depois porque teve problemas com os indígenas.

(Wesley Fragas, 2024)


Os próximos escritos são recortes da obra hoje quase extinta de Edevaldo Cyro Thiesen (in memoriam), Organização, Adaptação e Edição, Antônio Ervino Hammes. É provável que o autor escreveu os relatos que seguem em homenagem ao cinquentenário da colonização de Ituporanga em 1962.




As raízes de Ituporanga


Os antigos mapas da Província de Santa Catarina, indicavam a zona do Rio Itajaí do Sul como lugar incógnito e com aldeias de índios bravios.

 

No fim do século XVII, o capitão Antônio Marques Arzão abriu um caminho entre a ilha de Santa Catarina e a Serra Geral, em direção a Lages. A sua rota, porém, não atravessou o vale do Rio Itajaí do Sul e sim, passou pelas vertentes, ao sul da Serra da Boa Vista e da Pedra Branca, chegando logo adiante, nos campos de Bom Retiro, de onde desceu em parte, pelos campos marginais ao Rio Canoas e atingindo, depois, os campos das coxilhas de Lages. Outros vieram depois modificar este primeiro traçado do capitão Arzão. Assim, o denominado caminho dos Coelhos, seguia caminho por Morro Chato, Invernadinha, Boa Vista, Caeté, Águas Frias e Trombudo até os campos de Bom Retiro. Outro caminho de São José a Lages, vinha via Teresópolis, hoje Queçaba, Taquaras, o lado norte da Serra da Boa Vista, Quebra-Dentes, Faxinal Preto, Demora e, descendo essa serra, atravessava o Rio Itajaí do Sul, na barra do Riozinho, subindo depois o morro do Cadeado, costeando o morro do Costão do Frade e alcançava, no lugar Guarda Velha, os campos de Bom Retiro. Mais tarde, o governo mandou construir a atual estrada do Estreito a Lages, que tem por variante a estrada do Figueiredo, através dos campos deste nome e passando por Santa Tereza, hoje Catuira.


1840 – O Primeiro Intruso


Em 1840 veio a fazer residência como primeiro  intruso nos matos da colônia Santa Thereza, atual localidade de Catuíra,  o coronel Serafim Muniz, que em 1835 lutou na guerra dos Farrapos. A família ficou em Lages, depois que conseguiu passaporte como general do império denominado Abatú, para São José, porque seu chefe ainda estava aqui como refugiado e escondido.


Sim, isso era Itupornga na década de 1930


Fundação da colônia militar Santa Thereza - 1853

Fundada a colônia militar Santa Thereza (Atual localidade de Catuíra em Alfredo Wagner), em virtude do decreto nº 1266, de 8 de novembro de 1853, foi estabelecida na antiga estrada geral, que ligava as cidades de São José a Lages, quase na metade do caminho, à margem do rio  Itajaí do Sul teve por distrito uma légua quadrada, podendo estender-se por todo o território, ao longo da estrada, entre o morro chato à leste e o campo do Trombudo, a oeste.

Presidiu a escolha das terras a situação das mesmas a intenção de estabelecer um núcleo de população  armada, naqueles sertões, opôs uma barreira às constantes incursões a garantir as comunicações do planalto com o litoral, seria como um posto de agricultores destinados ao policiamento da região a servir de início às populações futuras.

Foi o seu primeiro diretor, o major graduado Afonso de Albuquerque Mello, até então comandante da companhia de inválidos, assistentes na Capital. O primeiro estabelecimento da colônia teve lugar, porém, no Trombudo (Rio do Sul), à margem do antigo caminho de Lajes.


1854 – A Chegada dos Soldados


Ali chegaram no dia 14 de Janeiro de 1854 tendo partido da capital a 7 do mesmo mês. O diretor e 19 soldados, ficando outras remessas de colonos, em abril o seu número atingiu 43 praças, 13 mulheres e 5 crianças. Tratava do diretor em promover o assentamento definitivo dos colonos, quando fortes chuvas sobrevindas do mês de março fizeram recear ser o terreno alagado e impróprio para o estabelecimento, e também não ser o ideal para o cultivo das terras. Parecendo ser esta razão de mais peso, constituídos como são de encostas de montanhas e chapadas de faxinais. Forçados a escolher nova localidade desceram os colonos da serra e vieram em princípio de junho estabelecer-se na margem do rio Itajaí, justamente no ponto em que a estrada atravessa o rio e começa a subida da mesma serra. Essa localidade foi chamada Santa Thereza (atualmente chamada de Catuíra no município de Alfredo Wagner), e foi sede da antiga colônia.


Em dezembro de 1854 foi excluídos três soldados que tinham desertado, existiam na colônia, além do diretor e do cirurgião, 51 colonos militares e 61 pessoas das famílias divididas segundo o quadro abaixo:


De Santa catarina 29 colonos soldados – pessoas das famílias: 18 homens e 33 mulheres – Total 80 pessoas assim divididas:


De Pernambuco: 07 colonos soldados, total 7. Da Bahia 4. De Minas Gerais 04, de São Paulo 02 e dois do Maranhão 1 do Ceará e 01 do Rio de Janeiro 02, sendo um casal. De São Pedro do Sul 01.Do Paraná, 1 casal, da Alemanha; 3 homens, 2 crianças e 04 mulheres perfazendo um total de 9 pessoas. De Buenos Aires 01 mulher. Das Canárias 01 mulher, assim 51 colonos soldados, 20 homens, 41 mulheres, total 112. A diferença de mais quatro homens casados provinha de não terem ainda levado suas mulheres, 04 soldados colonos. Entre os soldados colonos, encontravam-se 5 carpinteiros, um marceneiro, dois pedreiros, três oleiros, dois serradores, quatro alfaiates, um sapateiro, dois ferreiros e um barbeiro. Os restantes eram lavradores.


Tendo a colônia se estabelecido em junho, já em Dezembro possuía 25 casas cobertas de palhas, pertencentes aos colonos, tendo quase todos feito plantações  de feijão, milho, abóboras e batatas. As terras eram férteis e o clima era excelente,durante este ano não foi registrado nenhum óbito.



Nos primórdios, ensino em alemão.


O movimento da colônia durante os anos seguintes, foi em resumo a que fica dito nas linhas seguintes:


1855 – Balanço da População


Em 1855 nasceram 9, faleceram 6. Foram retirados 14 soldados com 14 pessoas de família, por terem completa negação para o trabalho. Entraram 07 soldados com 21 pessoas de família. A população assistente era de 115 pessoas. Houve um aumento de 13 casas.


Excursão de 1857

 

Em 1857, o colono Alexandre Bürger, de Blumenau,  mandou uma carta a parentes seus na Alemanha,  a respeito da verdadeira epopeia do Capitão Pinto, o qual, da Colônia Militar de Santa Tereza (hoje Catuira), nas cabeceiras do rio Itajaí do Sul, desceu o mesmo, a princípio de canoa, e depois, pelas suas margens, em penosa marcha pelas florestas virgens, chegando em Blumenau, então um povoado de umas dezenas de ranchos.

 

Abaixo um pequeno trecho desta carta:

 

“Recebemos, estes dias, uma visita sumamente interessante, causando-nos grande prazer, em cuja recepção e despedida detonamos numerosas salvas de honra, inclusive da guarda de 12 elementos aqui estacionada. O Capitão Pinto, comandante dos Batedores de Mato desta Província, chegou aqui, descendo pelas florestas do nosso Itajaí Grande, tendo relatado muita coisa nova e relevante sobre esta viagem. Iniciaram ele a excursão com dez canoas e vinte e cinco homens, tendo sido vitorioso neste empreendimento, apesar dos muitos perigos e grandes empecilhos que teve de enfrentar, tendo sido o mesmo tentado já anteriormente por várias vezes, e com resultado negativo. Após pouco tempo de jornada, viu-se ele forçado a desistir da via fluvial devido a muitas cascatas do rio, entre estas uma de 50 pés de altura, que tornaram a passagem quase impossível. Decidiu então abandonar as canoas e os gêneros alimentícios não absolutamente indispensáveis, tendo continuado por via terrestre até a feliz chegada aqui, mesmo que já um tanto emagrecido e esfomeado - após 22 dias do início da excursão, na qual vencera 50 milhas de caminhada. O empreendimento, entretanto, exigira também o seu tributo - perecendo um de seus homens afogado em redemoinho de uma das fortes corredeiras do rio.”

 

A carta do colono Alexandre Bürger (extraída da publicação “Blumenau em Cadernos” Tomo VII, Nº 182, pg. 13) continua relatando outros dados desta excursão.


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