Houve um momento em minha vida em que me senti privilegiada ou até agraciada pela sorte: eu estava presente à “gênese” da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, de Ituporanga.


As “filhas de Maria” Angela Sens, Josefina Andrade, Cirênia Juttel e eu, participamos de uma excursão para uma visita à Gruta de Rio dos Bugres, cerca de 25 quilômetros da nossa cidade. Era uma gruta de Nossa Senhora, cuja imagem estava abrigada num nicho, encravado numa pedra. Era tudo muito simples, mas belo.



A Gruta do Rio dos Bugres inspirou a construção da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.

Ao fazermos ali um lanche (havíamos trazido de casa cestas recheadas de guloseimas), escutei o Sr. Cyriaco Andrade conversando com o Sr. Adão Sens (eles participavam do passeio) e esse último dizia que, no terreno dele, existente no morro atrás da casa, havia um lugar próprio para uma grande gruta.


Dias depois, chegava a Ituporanga o Sr. Miguel Michels, namorado de Osvalda Thiesen, que se mostrou interessado sobre a história da gruta, e quis muito - como eu também - conhecer o lugar.


Ladeando o riacho, que corria cascateando, Odilon Sens nos levou até a famosa gruta. Realmente ficamos todos deslumbrados com a beleza do lugar: Angela, Osvalda, Miguel e eu, todos agachados sobre uma enorme pedra, sob a qual permanecemos por longo tempo, admirando o que a natureza esculpira ao longo dos séculos, e nos oferecia agora ao olhar.


Uma reentrância formava um enorme vão, cobrindo a plataforma, e a água que caía do alto não atingia a gruta.


Frei Arthur Kleba, vigário da paróquia, deu início à construção da Gruta em 1949, fazendo construir a estrada em zig-zag para colocação das 14 estações da Via Sacra.


Quase ao mesmo tempo foi construída, em tempo recorde, a ponte pênsil, verdadeira obra de engenharia, sob comando de Vitório Sens, sobrinho do “seu” Adão. A ponte pênsil estava estrategicamente colocada entre a farmácia do “seu” Dilo e o Salão do “seu” Jacó Sens, e demandava as terras do “seu” Adão, do outro lado do rio.


O “seu” Adão dispõs terrenos que permitiram a abertura de estradas até o início da via sacra. E olhe que as estradas e a ponte permitiam mesmo a passagem de veículos leves e até caminhões pequenos até a Gruta.


Em tempo muito rápido, o aterro circundando o pátio já existente foi construído, de sorte que a gruta abrigada do sol e de chuva mais de 2.000 pessoas, e até missas eram rezadas lá.


Foi construído um desvio de parte da água que escorria por cima da gruta, de tal forma que a água passou a escorrer sob os pés da Virgem de Lourdes, cuja imagem já ali fora colocada.


E lá está até hoje - a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, de Ituporanga - onde muitos vão buscar consolos e amparo em Maria, a mãe de Jesus. A cidade cresceu, o sistema viário se desenvolveu, surgiram casas pelo caminho, mas a gruta, que hoje figura entre os pontos turísticos do município, está a atestar a fé de um povo.


Texto de Ernestina Faizer Kurth - Livro “homenagem a Ituporanga”, organizado por Nilson José Boing, página 32, publicado pela Editora Nova Letra em 2012.

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