As pessoas sempre vendiam seus excedentes e compravam outros produtos desconhecidos. Desde os primórdios o crescimento da qualidade de vida das pessoas passa diretamente pelas mãos do indivíduo partícipe de uma sociedade. São ações pessoais, movidas pela capacidade individual de cada pessoa, por seu ímpeto nato. Não há como extrair esta característica do ser humano!


A palavra empreendedorismo não existia, mas não é necessário esforço intelectual para saber que os governos não eram os impulsionadores do crescimento e da melhoria de vida da sociedade e das famílias. Sempre foram as pessoas, a vontade intrínseca de cada indivíduo de progredir. Os interesses do cidadão são interesses desconexos com o interesse da figura que hoje conhecemos como “Estado de bem estar social”.


Nos primórdios de Salto Grande ou Ituporanga se produzia muito açúcar, melado, farinha de mandioca e cachaça. Uma notícia que certamente, de boca em boca chegou aos tropeiros, a maioria oriunda dos campos de Lages. Como diz o livro da família Sens, “Uma história para se contar”, os ituporanguenses acabaram por se interessar no charque, no queijo, tecidos, sal, querosene e café. Esta rota da Colônia Militar de Santa Tereza, passando por Ituporanga, Rio do Sul até Blumenau certamente foi desbravada muito anos antes de 1912, data oficial da colonização, mesmo sabendo que aqui já haviam colonos antes de 1911. 


Um tal Capitão Pinto, comandante dos Batedores de Mato da Província, patente dada pela Monarquia a estes desbravadores, já havia passado por Ituporanga (Rio Abaixo) em 1857 vindo da então Catuíra (Colônia Militar Santa Tereza), informação extraída de fontes primárias, contadas por um colono alemão de nome Alexandre Bürguer, por carta enviada a parentes na Alemanha, já contava esta incrível história nos moldes de aventuras heróicas como a de Cabeza de Vaca (Alvar Nuñez Cabeza de Vaca) em sua busca pela serra dourada, desbravando e no seu trajeto até os andes bolivianos (Potosí) onde encontrou pela primeira vez as Cataratas do Iguaçu. Segundo Bürguer, Capitão Pinto perdeu um de seus homens para o rio no trajeto e sua comitiva chegou a Blumenau muito debilitada e todos muito magros pelo exaustivo trajeto.


Emílio Altemburg logo viu a oportunidade e colocou um açougue ou charqueada na então Salto Grande. Seu braço direito era o Sr. Holetz, pai do saudoso médico Valmor Holetz. Assim, pouco a pouco, os indivíduos, de forma espontânea e inteligente foram vendo as oportunidades e, assim, muitos outros comércios surgiram.  


Veja que tudo aconteceu sem interferência de governos, era o próprio instinto do ser humano, capaz de raciocinar que seus excedentes podiam simplesmente serem trocados por outros produtos e assim, vendê-los dentro do seu meio social. Mais tarde, para outros recintos. Há vários relatos de intercâmbio de excedentes em Ituporanga, não somente com tropeiros, mas com portugueses do litoral, com indígenas amansados e com vizinhos próximos, colonos de várias partes da Europa, certamente os primeiros desbravadores das nossas cidades vizinhas.


O mesmo aconteceu com os serviços de transportes (balsas e canoas para travessia dos rios), mesmo sendo negócios de certa forma efetuados por privilegiados, donos de terras marginais, aqueles que fizeram os primeiros acordos com a Companhia Colonizadora, acordos estes que vale ressaltar, muita pouca gente estava disposta a fazer, especialmente os portugueses do litoral que não queriam sair da tranquilidade da beira-mar. O próprio Mathias Sens tinha dinheiro em haver do governo estadual na gestão de Lauro Muller e depois Gustavo Richard, pois havia construído junto com companheiros várias estradas na região de Palhoça, ficando credor do governo provincial. O setor de serviços foi importante no início do século XX em Ituporanga e ajudou a cidade a crescer, mas, sobretudo, a despertar para novas maneiras de travessias pluviais, tanto no Itajaí do Sul quanto nos principais afluentes da bacia deste nosso rio importante, provedor de riquezas e também de grandes enchentes.

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