Eu lembro desde pequeno, o primeiro contato com os descendentes de alemães e italianos que aqui já viviam muito antes deu eu nascer. Meu pai era comerciante e o contato com estes homens de fala confusa me chamava a atenção. Lembro que eram homens que meu pai falava muito bem e ele, na sua ignorância compreensível, só me dizia que “eles falavam assim”, que eram homens honrados, mas aquilo sempre ficou na minha memória. Eu frequentava o ensino fundamental e sabíamos pouco sobre a origem destes homens. Foram escassas às vezes que a escola me trouxe a resposta que meu satisfazia.
O tempo foi passando, fomos nos acostumando, compreendendo, escutando histórias orais, houve também um certo aculturamento, dos dois lados, sim, porque muito aprendemos com eles e eles conosco. Sempre foram membros da nossa sociedade, senhores e senhoras distintas, e cultivam valores morais, gostam de preservar suas tradições.
A maioria hoje em dia perdeu um pouco deste patoá, ou essas expressões tão diferentes que estávamos tão acostumados, mas entre os mais antigos ainda se vê muito aqui e ali. Quando zombávamos deste “patois” éramos adolescentes ignorantes, que não sabíamos nem a gramática do nosso idioma nativo, o português, mas insistíamos em ficar falando do sotaque destes bravos imigrantes. A eterna idiotice da adolescência e pouca leitura desde a infância tornava o assunto incompreensível para nós.
Aos poucos, esta aculturação nos aproximou e logicamente com tempo, mais maduros, mais cultos, fomos vendo a verdadeira importância de ter vivido com estes imigrantes e seus descendentes, especialmente na influência daquilo que nos tornamos, uma sociedade mais civilizada, temente a Deus e com regras e tradições mais fortificadas.
Edmund Burke sabiamente já dizia em suas reflexões: [...é nosso orgulho saber; que o homem é por constituição um animal religioso; que o ateísmo não é só contrário a sua razão, mas a nossos instintos; e não pode prevalecer por muito tempo.]
Os imigrantes, católicos e protestantes sabiam que a sociedade sem religião não retém a solidez e desestabiliza os hábitos, a cultura e as tradições. Se somos uma sociedade modelo para o Brasil hoje, devemos muito há eles, que já sabiam desde que pisaram neste chão, que deveriam continuar com aquilo que lá na sua pátria mãe sempre norteou suas ações e seus negócios. Não podemos negar que aprendemos muito sobre a honra, o bem e o mau, o certo e o errado, há não fazer promessas vazias, a dar valor a propriedade privada e a família.
Foram conquistas que por séculos seus antepassados lutaram para conquistar e saber preservar. Não foi à toa que eles continuaram preservando aquilo que sabiam por instinto, por aprendizado de gerações. A adaptação linguística a que nos referimos no início era apenas mais um desafio que eles iam ter que superar. Nada comparado ao legado que eles nos deixaram.
Wesley Fragas
Colunista WRN