O Natal é uma das datas mais importantes para os cristãos. Ao lado da Páscoa, a celebração tem Jesus como ponto central. Se na Páscoa celebra-se a ressurreição de Cristo, no Natal a memória é em relação ao nascimento. "Do ponto de vista bíblico o nascimento de Jesus significa a entrada de Deus na essência humana. A expressão clássica é 'o verbo se fez carne'. Então, significa a manifestação de Deus em carne humana, para que os homens pudessem compreendê-lo melhor. A Bíblia não diz que 'o Natal é isso', apenas que Jesus nasceu. Para a fé cristã, é que Deus veio habitar entre os homens, tornou-se um igual aos homens", explica Gerson Leite de Moraes, pastor e professor da Universidade Presbiteriana Makenzie.

"O Natal não é a celebração do aniversário de Jesus, mas onde os cristãos são chamados a refletir sobre a encarnação de Jesus", completa Felipe Cosme Damião Sobrinho, padre e professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Data era de festa romana.

Se o Natal celebra o nascimento de Jesus e a data é 25 de dezembro, parece lógico concluir que Cristo nasceu neste dia, certo? Errado.

"Sabemos que não existe nenhuma informação clara nas escrituras sobre o nascimento de Jesus. Em algumas tradições antigas, o nascimento de Jesus teria acontecido em Nazaré. É importante enfatizar que Jesus não nasceu em 25 de dezembro", aponta Fernando Ripoli, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. De onde, então, surgiu a relação entre Natal e 25 de dezembro? "A origem é uma festa pagã que foi cristianizada. A data de 25 de dezembro se tornou simbólica para que a gente celebre a encarnação de Jesus", afirma Sobrinho.

"A data é por causa do solstício de inverno, que é celebrado na Europa. Os romanos celebravam isso. Essa festa celebrando o Deus Sol foi cristianizada. Quem é o Sol, a luz que nunca se apaga? Jesus Cristo", completa o padre e professor da PUC-SP.

O Natal, já direcionado ao cristianismo, passou a integrar o calendário no dia 25 de dezembro por volta do ano 350.

Natal, hoje, tem peso comercial A troca de presentes e o comércio de itens natalinos para enfeitar a casa é algo corriqueiro em shoppings e lojas de rua em praticamente todas as cidades do mundo. Para os religiosos, isso é sinal de que a celebração natalina ganhou ares majoritariamente comerciais. "O Natal como conhecemos hoje está muito associado a um dia e muito em função de um calendário comercial. E isso também é um ressignificado que o mundo moderno deu a uma tradição que o cristianismo havia ressignificado lá atrás", conta Moraes. "

Tem-se que o significado do Natal, independentemente de alguém ter religião, como uma mensagem de amor e aproximação ao próximo. Tem sentido familiar. E ainda que Jesus não nasceu em 25 de dezembro, as pessoas se lembram deste fato que foi inserido. E isso no mundo inteiro. Lógico que é utilizado como sinônimo do comércio, mas é um momento de reflexão e de pensarmos no próximo segundo a mensagem de Jesus", afirma Ripoli.

Para outras religiões, Natal é tempo de alegria e confraternização. Muçulmanos, judeus e budistas não comemoram o Natal dentro de suas religiões. Mas, inseridos em um país em que a maioria da população seja católica ou evangélica - ambas linhas dentro do cristianismo -, é impossível "fugir" do tempo natalino.

"Os muçulmanos não celebram o Natal, mas sentem os efeitos positivos, que são contemplados pelos valores sócio-culturais, que o Natal gera nas nossas sociedades. Hoje em dia, vale ressaltar, as famílias são religiosamente híbridas. Há cristãos, judeus, muçulmanos? e se estabelecem entre eles relações matrimoniais sem esquecer as outras religiões. E dividimos momentos de alegria, felicidade e amor", afirma o sheik Ali Momade, autoridade religiosa da Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil).

"Não é uma data judaica e a maioria dos judeus mora em países de maioria cristã, então, não passa despercebida. O judeu sabe viver, inclusive como minoria que é, em diálogo constante com essa maioria. Se a maioria está festejando, o judeu também está em um feriado", conta Ruben Sternschein, rabino da CIP (Congregação Israelita Paulista).

Não há Natal no budismo. Mas na minha família de explica Denilson Lacerda, tutor no CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) de Campinas (SP) todo mundo é cristão. Só ele se tornou budista. “A imensa maioria dos budistas no Brasil não nasceu budista, experimentou Natal fora. Então, para mim, é muito tranquilo. Eu comemoro o Natal normalmente, do ponto de vista de reunir a família, desejar feliz Natal quando dá 00h, todo mundo junto no dia 25. Para mim é normal", completa Denilson Lacerda.

(Fonte: Matheus Adami - Colaboração para o UOL, de São)Paulo

Deixe seu Comentário